quarta-feira, 22 de junho de 2011

É possível deixar o passado para trás?

É interessante como somos ligado ao passado. Toda vez que retorno ao meu lugar de origem, pareço que me sinto preso ao passado. Só me vejo criança, adolescente, jovem adulto, estático naquele período de vida quando daqui me despedi. O tempo parece que parou para mim. Aqui dentro, parece que a vida não andou. Perdi a identificação, refiz a identidade, me sinto nu, despido de sentimento, insolitamente solitário. Às vezes nem consigo enxergar o céu, o rio, os morros, a fumaça prateada da fábrica que não para pelo bem e desenvolvimento do Brasil. Tudo para mim é tão nostálgico, exceto a fumaça que, para o bem do Brasil, continua a corroer nossos pulmões inocentes e eu a abomino. Não tenho mais aquele sentimento de "pertença", porém, paradoxalmente, não me vejo totalmente desgarrado do chão em que fui criado. Mia Couto, em Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, pela boca de Mariano, diz que "toda roupa recebe a alma de quem a usa" (2002, p.163). Será que é assim com a terra? Será que cada chão recebe a alma de quem o pisa? Não sei, não sei. Tudo aqui parece tão diferente, mas, ao mesmo tempo, tão igual! Vejo rostos envelhecidos, meu rosto envelhecido, como que pedindo perdão pelo tempo que passou. Não sei, acho mesmo que devemos deixar o passado repousar no seu canto frio. Só assim, ainda que pisando o mesmo chão, poderemos continuar a (re)viver. Procuro minha alma nesse chão. Infelizmente, não há mais chão, há apenas marcas na minh'alma que volta e meia me levam adiante, me fazem passar por aqui sem deixar quaisquer vestígios, só lembranças partidas. É, pertenço mesmo ao passado. Dessa forma, me sinto melhor! Bem melhor.

2 comentários:

nadinha disse...

...Ao ler esta postagem, lembrei de uma canção muito linda: Pequeno Mapa do Tempo: "Eu tenho medo e medo está por fora, o medo anda por dentro do meu coração.. Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão..."(Belchior) As vezes tenho medo de reviver certas coisas e perceber o quanto era feliz e nao me dava conta.Ao mesmo tempo penso que este PASSADO, que insiste em voltar, nos mostra como é possivel fazer do PRESENTE algo especial que mais tarde seja lembrado de forma singela, serena e nostalgica a fim de que um dia ELE nao seja simplesmente deixado para trás.

Saudades de suas aulas
BELA RECORDAÇÃO

Sávio Siqueira disse...

Ah, Nádia, vc também é fã de Belchior? Mais uma coisa em comum. O passado não deve ser um tormento; nós somos fruto dele, com suas coisas boas e não tão boas. O mais importante é que ele não nos impeça de viver, não é? Grande abraço.