sexta-feira, 20 de maio de 2011

De luz, Fortaleza, as catedrais

Dia desses andei revendo umas fotos de Fortaleza, a linda capital do Ceará. Estive por lá algumas vezes e, como todo mundo promete, o sol brilhou o tempo inteiro. Deu para passear um pouco. Além das praias, claro, um dos lugares mais interessantes de se visitar é a Catedral Metropolitana de Fortaleza. Sua construção demorou quarenta anos. Iniciada em 1939, foi finalmente concluída somente em 1978. O projeto é da autoria do arquiteto francês George Mounier. Em estilo gótico-romano, com grandes e coloridos vitrais, tem capacidade de abrigar 5.000 pessoas, ostentando o lugar de terceira maior catedral do Brasil. Em princípio, o prédio chama a atenção por sua imponência exterior. Sua cor cinzenta interna não me agrada muito, mas, admito, realça de forma bem bacana o brilho dos vitrais. Estive lá com alguns amigos na hora do meio-dia. Pouca gente. Uma senhora com uma criança rezava em silêncio. Parecia estar agradecendo alguma graça. Acho que a humanidade está precisando agradecer mais que pedir. Andamos tão egoístas, tão individualistas e só pensamos em desejar, querer. Temos, recebemos e pouco agradecemos, até que nos assome uma outra necessidade. Precisamos mesmo reverter alguns dos nossos valores. E não precisamos de catedrais. Elas podem ajudar, mas são os nossos corações que carecem de luz. Um pouco de luz, como o eterno sol de Fortaleza.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Vai um porto bem na cidade do Porto!

Dias de chuvas intensas nessas terras de Todos os Santos. A cidade quase dissolve-se, porém, uma vez em casa, temos aquele clima gostoso para saborear um bom vinho enquanto o calor não volta. Decido por uma tacinha de um doce porto para, enfim, adocicar o paladar depois de tanto "reme-reme" no trânsito caótico desse nosso lugar. Com um porto no lábios, retorno à cidade do Porto, viagem de doces lembranças em um verão gostoso e docemente inesquecível. O charme de Portugal em doses intensas. Gosto tanto daquela atmosfera e só o D'ouro correndo livremente nos liberta de qualquer sensação de stress e de tempo perdido. Tempos gostosos, renovações aquecidas, buscamos na memória o que não se perde por entre os fios do esquecimento. Um barco carregado de vinho nos convida nessa caminhada. Vila Nova de Gaia, o lado de lá, O Porto, a beira de cá. Saudades de um lugar. Lá fora, a chuva não para, não dá trégua para o mar. Cai sem parar. Regresso ao Porto. Olho as luzes de Salvador. E sigo bebericando o meu porto sem parar. É noite na Bahia... meu porto seguro.

sábado, 14 de maio de 2011

Mendigando maternidades

De Mia Couto "roubo" novamente as palavras que provocam a reflexão. Fala ele desta mãe que, por não ser mãe de verdade, segue pela vida cuidando de arranjar "filhos" postiços para assim dar-se em devoção: "Vou sendo mãe avulsa, deste e daquele. Biscateio maternidades" (Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, Cia. das Letras, 2002, p.147). Ah, as mães! Quantas delas, legítimas, dedicadas, entregam-se aos seus filhos de corpo e alma, trazem no mais íntimo da alma a abnegação de dar a vida à vida, seguindo o ciclo maravilhoso de exercitar o mais belo dos dons. Ah, tantas mães, às vezes injustiçadas, abandonadas por aqueles que sequer sabem reconhecer o papel dessas guerreiras na nossa vida. Uma vez mãe, nenhuma delas volta a ser a mesma mulher. E como seria bom que nunca precisassem biscatear amor, atenção, carinho, respeito. Elas são a razão da vida e por elas estaremos sempre seguros, protegidos, amados. E lá seguem as mães. Sem elas, a vida não teria graça. Não haveria a vontade de a gente tocar a vida para frente e um dia lhes agradecer pelo amor de uma vida inteira. Ah, as mães. Biscateio seus amores, seus beijos, suas orações. E me torno alguém melhor a cada dia. Ah, mãe!!!

"O silêncio é a língua de Deus"

"O silêncio é a língua de Deus". Palavras de Dito Mariano, personagem emblemática do livro "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", de Mia Couto. Paro para pensar. Quantas vezes me ative a tentar ouvir a voz do silêncio! Nas minhas noites solitárias de longos escritos e delícias acadêmicas, estive, talvez sem me dar conta, ali bem perto de Deus, entre o bater das teclas do computador, ouvindo um silêncio aconchegante que me dizia tudo sem sequer balbuciar uma única palavra. Nesse mundo de tantas intempéries, em que já não mais ouvimos uns aos outros, silêncio é ouro, é encontrar-se verdadeiramente com Deus. E no nosso silenciar, temos o poder de dizer as coisas mais profundas, ensinar as lições mais fantásticas, temos a oportunidade de desacelerar o ritmo do mundo que, freneticamente, nos traga e nos carrega de roldão o tempo inteiro. O silêncio, língua de Deus. A maturidade tem me ensinado tal idioma. E tem me ajudado a ser alguém melhor. Em silêncio, em pleno contato com Deus. Ouçamos...