quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"Não basta morrer para deixar de viver"

Aqui estamos, Denise e eu, diante de ninguém menos que Mia Couto, um dos maiores escritores de língua portuguesa da atualidade, em noite de homenagem aos 99 anos do nosso grande Jorge Amado, o escritor maior da Bahia. Noite de gala em que literatura, política, identidade, sensibilidade e carisma se encontram e confluem para um sentimento de certeza que ali se está diante de alguém especial, diferente e, ao mesmo tempo, tão igual a cada um de nós. Através de palavras simples e milimetricamente certeiras, Mia Couto toca fundo na nossa alma. Falando da imortalidade que ganham os grandes artesãos da palavra, Mia diz que, para pessoas como Jorge Amado, "não basta morrer para deixar de viver", já que, na verdade, um homem com uma obra como esta, com toda deferência, requisita, ainda que sem qualquer solenidade, o direito de viver para sempre. Uma noite etérea, um encontro emocionante para mim, um fã racional, um tímido aprendiz que vê vida correr fundo na tessitura do pensamento de um homem que, a partir de uma matriz linguística semelhante, consegue me mostrar que o segredo da existência humana está exatamente em transformar o texto em algo grandioso, transformador, revolucionário. "Jorge não escrevia livros, escrevia um país", diz o poeta-escritor-biólogo da Beira. Mia também. Não escreve livros, mas um país com o qual tenho certa afinidade sem jamais ter pisado meus pés por lá. Ontem, ao conhecê-lo pessoalmente naquela profusão de saudações apressadas, lhe ter apertado a mão, ter-lhe praticamente furtado um autógrafo e dito o quanto admiro o seu trabalho, me fez sentir mais jovem, mais alerta, mais esperançoso para com o fato de que ainda é possível acreditar em sonhos, é possível "escutar silêncios". Esse sujeito simples, de fala mansa e segura, lá da periferia da periferia do mundo, me traz esse sentimento, mexe comigo, desarticula minhas verdades e, acima de tudo, me faz sentir cada vez mais vivo. Nas minhas "mal contidas ignorâncias", como diria ele, me transformo em alguém melhor, crio asas. Viva Mia Couto!

2 comentários:

Lucielen disse...

Oi Sávio!!! Que bom ver você e Denise ao lado de Mia Couto. Que honra para você conhecê-lo não é? Nossa eu teria adorado conhecer pessoalmente Mia Couto, um autor que aprendi a gostar pela indicação de um professor muito querido, que com sua paixão nos olhos me ensinou a mergulhar na poesia Africana! Acredite, ainda to aprendendo com os mergulhos, porque a cada dia que leio um pouco de Mia Couto, fico encantada com a forma como as palavras podem dar formas a sentimentos! Muito legal! Só sinto não poder ter estado lá com vocês! Espero ainda ter essa oportunidade! Quem sabe um dia não é?

Sávio Siqueira disse...

Querida,
Com certeza. Senti muito em vc não ter estado aqui, mas vou conseguir o DVD da paletra e aí a gente socializa. Foi uma noite memorável.