Em um dos seus livros mais recentes, E se Obama fosse africano? (2011), Mia Couto diz que "nos nossos dias, já não há viagem. Deslocamo-nos apenas. (...) A velocidade que possibilita a deslocação acabou matando a viagem" (p.174). Essa argumentação do escritor moçambicano me faz refletir a partir de uma constatação interessante, quando ele nos lembra que isso acontece simplesmente porque quando viajamos a [real] viagem "obriga-nos a sermos outros, a descentrarmo-nos, a deslocarmo-nos para fora de nós" (p.174). Não é uma visão romântica que, no mínimo, nos levaria àquela época em que viajar era uma epópeia em que,ao longo do caminho, íamos nos transformando pelo contato com os outros e suas terras, seus sorrisos, suas culturas. E desse contato, estenderíamos, mestiçaríamos o nosso "eu". Uma discussão profunda, diria. Este Mia Couto toca fundo na vida através da palavra. E tudo isso, para mim, é ensinamento. Estou a caminho da China, lugar em que jamais pisei. Muitas horas de voo, não sei se viagem ou de deslocamento. MInha cabeça vai girando e procuro não romantizar a experiência que me aguarda. Tenho certeza apenas que, mesmo às custas de algum choque cultural, serei alguém diferente no momento em que aportar por aquelas plagas. Aguardo boas experiências. Tomara que eu seja capaz de me "diluir", de "ser apropriado por outras almas" (Mia Couto, novamente). Tomara que eu possa ao menos entender um pouco aquele país, revisar meus estereótipos, ver tudo o que sempre quis com meus próprios olhos. Tomara que meu deslocamento transforme-se em "viagem". Tomara! China, aqui vou eu!
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