terça-feira, 28 de dezembro de 2010

De tanto amar, de tanto amor...

Por que será que este menino mexe tanto comigo? Não se trata apenas do fato de Pedro ser o meu filho caçula. Há algo de mais grandioso entre este menino e eu, menino que sou e também não quero crescer. Por que o amo tanto, por que temo tanto que um dia posso perdê-lo? Ah, mas como diz o grande Gibran em "O Profeta", "vossos filhos não são vossos, embora estejam junto de vós, não vos pertencem". Por mais que isso seja uma verdade crua e dilacerante, tento aos poucos me sentir desta forma, ser o arco "dos quais vossos filhos são arremessados como setas vivas", ainda Gibran. Esse Pedro pedreiro menino sapeca, alegria maior de minha casa, me inebria e me faz, cada vez mais, um danado menino. Ao apertá-lo contra o peito, vivo e revivo milhões de vezes a minha vida que espero se estenda o bastante para vê-lo menino criado e feliz vida afora. De tanto amar, de tanto amor, me perco nessas sensações de que um dia Pedro vai voar e me deixar. Peço egoisticamente que ele não cresça, mas ele vai esticando e virando menino grande, conversador, o meu más grande amor. Aff, esse Pedro malandro, que amo mais que a mim mesmo. Por que o quero tanto? Por que é menino? Por que é o meu menino? Mas nossos filhos não são nossos, Pedro não é meu. É do mundo, de Deus. Não sei, esse Pedro, esse Pedro é meu, meu amor maior, do mundo meu! Esse Pedro é tão meu... tão meu!!!

domingo, 26 de dezembro de 2010

A garganta do Diabo (Devil's throat)


Já falei um milhão de vezes que as Cataratas do Iguaçu são lindas, mágicas, apaixonantes. São poderosas, intensas e sensuais como a mulher que amamos. Já virei um chato ao ficar o tempo todo repetindo o quão maravilhoso é aquele espetáculo de águas que nunca param de jorrar paredão abaixo. Falei tanto que agora trouxe imagens móveis, as águas descendo pra valer via aquela enorme cratera que na Argentina alcunhou-se de "Garganta do Diabo". Por que será? O diabo terá lá essa garganta assim tão grande? Quem chega perto dela, perde o fôlego, sente vontade de se jogar. Para os suicidas e malucos em potencial, melhor não arriscar. O poder de atração daquelas águas goela abaixo do diabo é de arrasar. Mas, acima de tudo, é mesmo uma dádiva divina. Divine-se a natureza que, sabiamente, soube talhar aquilo lá. Sinto saudades só em olhar. Quero pra lá voltar. Quero virar passarinho e sobrevoar, viver por lá. Ser engolido pelas águas, mas nunca me afogar. Melhor destino não há. Quem nos deu aquilo lá, vive em outra dimensão, vive no fio da navalha, sem querer nem tempo pra descansar. Sou chato por amar aqueles cantos. Não me canso de falar. Lembro agora em vídeo. Relembro o que vivi por lá. Bem na garganta do tal tinhoso. As águas, as águas de lá. Ah, são como as tantas mulheres que não haverei de amar... Uma de cada olhar... De cada lugar...

Aqui, nessa estação, eu sigo...

Numa estação, a caminho do mar, desço a serra, a graciosa serra que me levará pelas curvas verdes, íngremes e intensas da linda Serra do Mar. Disse-me alguém que não há nada mais gostoso que andar de trem. Trago todo o romantismo de tempos meninos em que, todos os dias, às 5 da manhã, nas terras de minha infância, eu ouvia o apito do trem. O comboio que seguia para a Bahia e levava meus sonhos por entre os caminhos de minha imaginação. Fui criado diante do apito do trem. As estações em ruínas que agora maculam meus olhos são apenas pequenos espaços onde, de casa, dava para ver a correria de gente que vinha e gente que ia. Eu conheci a Maria Fumaça, fiquei amigo dela e sabia sempre quando ela estava para chegar. Estive na Serra do Mar, tomei o trem para lá, brinquei de ver o imperador Pedro II pendurado pela janela, apreciando os lindos cânions da Serra do Mar. Graciosa serra que me faz lembar. Um trem, um trilho, um pontilhão, um, dois, milhões de dormentes. Eu, amigos pequenos, deslizando nos trilhos, trilhando caminhos para algum lugar. Aqui, nessa estação, eu sigo. Rumo para o mar. A serra do mar, o mar do meu próprio destino. Sigo e me deixo levar. Pro mar...

sábado, 25 de dezembro de 2010

"Não me deixe um só minuto sem amor"


"Eu desisto, não existe esta manhã que eu perseguia" são os primeiros versos de uma das canções mais belas desse cara maravilhoso e esquecido chamado Taiguara. A canção "Universo do teu corpo", um hino ao amor para mim. Quando a gente ouve Taiguara, a alma ganha asas, a vida fica mais interessante, nos distanciamos da mesmice, da mediocridade, do lugar comum que, ultimamente, vem tomando conta da música nacional. Seus versos nos ajudam a elevarmos o espírito. Aqui está solenemente homenageada a mulher, em especial, a mulher amada. A que foi, a que é, a que será, a que seria. A mulher em todo seu esplendor, na grandeza do universo feminino, algo que por mais que tentemos desbravar, jamais entenderemos por inteiro. E para que tentar entender os jeitos femininos? São os seus pequenos segredos que aos poucos vão se revelando e que nos encantam. São segredos que se replicam e que nos levam por caminhos quase sempre surpreendentes. Nos tiram da miséria absoluta de sermos comuns. Aqui, Taiguara diz tudo: "Em que eu digo, que estou morto pr'este triste mundo antigo, que meu porto, meu destino, meu abrigo, são teu corpo amante amigo em minhas mãos". Em minhas mãos está sempre o desejo de voar pelo universo de um corpo, o universo do teu corpo. Viva! Ouça! Taiguara está aí em vídeo. Viva, o universo nos espera. No próximo sorriso daqueles lindos lábios carnudos, rubros em flor. No universo. Do teu corpo. Corpo. Alma. Ouça e viaje. Não me deixe um só minuto sem amor! Por favor! Não me deixe um só minuto sem amor.

Corta, corre, pega a pipa - lá vou eu, menino!

Estou caminhando na beira da praia sob o incadescente e maravilhoso crepúsculo natalino da minha amada Salvador. Som no ouvido, vento do mar zoando nas orelhas, salitre forte enevoando as lentes dos meus óculos. Lá vou eu, menino, distante de tudo e entregue à solidão que me acalenta e acalma a alma. De repente, gritos e gritos, vozes de meninos: "Corta, corre, pega a pipa, vai, Cau, pega, cortei!" Ah, aquilo soou como música para mim, me levou a ser de novo o menino destemido que entrava com tudo na guerra de arraia lá na minha Pojuca natal. É Natal e naquele menino, com os olhos e o coração cheios de nostalgia, cato todas aquelas pipas que um dia carregadas de cerol pinicavam e cortavam minhas mãos de menino. Era o tempero da linha que faziam a grande diferença. Corre, corre, menino! Traz aquelas lembranças para mim! Pega a pipa que vai caindo e me leva a ser menino. Vai, menino, vai. Eu vou com você! Me faz ser menino de novo, vai! E a pipa que cai, que vai, ao vento, vai, vai... É Natal na Bahia!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal, Christmas, Navidad: Be happy...only this!

Christmas 2010 is just here. Messages and wishes barely change. The same mess, the same promotions, the peak in sales all over where the date is celebrated. This is good, this is bad. Naturally, I'm against consumerism, especially the predatory one. The type of crazy and limitless consumerism which led the American society into bankruptcy. Well, those are the wounds of capitalism and for no option whatsoever, we move on with that tide. Brazilians go shopping too. But there is a good sign here: most people who crowd the shops today come for the so-called "Class C". This means this group of people is being economically included. Isn't this a good sign? I think so. But despite all the enthusiasm, the sense and the symbology of Christmas should prevail. That's what I wish it happened. Let's think of the real sense of Christmas. And wish for simple things in life. A simple life. Merry Christmas!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Olhos do Mundo, Milton como nunca e sempre


"Olhos do Mundo" é uma das canções do novo trabalho do maravilhoso Milton Nascimento, umas das mais poderosas vozes de nossa música popular. Milton, apesar de altos e baixos ao longo de sua carreira, traz sempre algo inovador. É por isso que quando lhe perguntam em que estilo musical ele se encaixa, a resposta é taxativa: Milton! "Olhos do mundo", do álbum ...E a gente sonhando (EMI, 2010), composição de dois garotos de Três Pontas (MG), cidade onde Milton foi criado, fala do pequeno tamanho desse mundão, especialmente em tempos de globalização: "Já não há quem possa ficar assim tão só, o mundo é pequeno e sempre dá um nó". Os autores da canção e que também assumem o vocal com o Bituca, são Marco Elízeo e Heitor Branquinho. Vale a pena ouvir. Peço licença ao Miltão para postar a música: "No norte ou no sul, interior ou capital, há quem pareça, mas não há nada igual". Um convite a celebrarmos a nossa deliciosa diversidade, as nossas sutis diferenças, nem sempre bem compreendidas. Mia Couto, grande escritor moçambicano, já escrevia: "A única maneira de sermos puros é sermos híbridos. A verdade é que só seremos um se formos muitos". Quanta sabedoria! Milton e seus convidados, de alguma forma, estão dizendo isso. Ouçam, aproveitem, deleitem-se e, em algum lugar deste mundo, lembrem-se de mim. Eu, certamente, farei o mesmo. "Quem é capaz de fechar os olhos do mundo?" Salut!

Meus amigos do vento oeste

Aqui estão eles. Três de muitos. Amigos que sabem receber, cativar e deixar no momento da volta aquela sensação de não se ter partido. São novos amigos que, de alguma forma, reativam a cada chamada via e-mail, MSN ou telefone, a minha saudade e a certeza de que o mundo é mesmo muito pequeno e o que ele tem de melhor são mesmo as pessoas. Os nossos encontros foram sempre animados, cheios de alegria e de trocas incríveis. Gente que tem muito para oferecer, trabalhadores de um país dentro desse imenso país e sobre o qual temos pouco conhecimento. Ah, esse imenso Brasil que nos une e nos separa! Mas que nos acolhe e nos singulariza nas nossas sutis diferenças. Que gente boa, que gente especial! São os meus amigos do vento oeste, daqueles ventos que beijam e bafejam a força imperiosa das cataratas do Iguaçu, meu eterno entrelugar. Saudades muitas, meus amigos. Saudades muitas.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Cair é o caminho para levantar

Aconteceu e o nosso rubro-negro sofredor caiu de novo para a maldita segundona. E o pior de tudo isso é que o grande rival, o Bahia, subiu, e um bando de gente começa a dançar de felicidade por conta do fracasso do Leão. Ah, faz parte da sacanagem sadia do futebol. Chega dessa onda politicamente correta. Como bem disse Chico Buarque, a graça do futebol é a humilhação do adversário. Estamos humilhados, mas não estamos mortos. Cair é bom para aguçar o nosso sentimento de reação. A queda por incompetência é um preço amargo a se pagar, mas válido. Ficam as lições. Ano que vem não tem BA-VI na primeirona. Continuaremos separados, desunidos, segregados. E é isso mesmo. Mistura em futebol dissolve a boa e salutar essência de competir. Estamos no chão. Teremos que ser fortes. Caímos, mas estamos vivos. "Vamo lá, Nêêêgooo". Ano que vem tem mais. Mas se não melhorar, melhor ficar onde está. "Na chon". Até tomar vergonha na cara. "Vamo" lá!!!

O Rio sobreviverá sempre

O Rio é e continuará a ser o lugar mais lindo do mundo. A guerra que está ali instalada, infelizmente, é a grande mancha de todas as nossas cidades, inclusive as menores, deixando claro que fracassamos no nosso projeto de nação, se é que ele um dia existiu. A guerra do Rio é de todos nós e afeta a cada um de nós diretamente, mesmo estando a quilômetros de distância de suas fronteiras. O Rio é forte, seu povo é forte e sábio, e sabe muito bem que ele (o Rio) sobreviverá sempre. O Cristo voltará a abrir seus braços e não mais precisará de colete à prova de balas. Essa é a esperança de cada brasileiro que, bem ou mal, como eu, vive mesmo de esperança no tocante às grandes mazelas dessa nossa sociedade falida e desigual. O Rio continuará lindo e mais calmo, cada vez mais cálido. Paz ao Rio, às suas crianças, às suas meninas, à sua gente. O Rio tem que continuar. Livre. Livre. Leve. E solto... por todo lugar. Quem não ama o Rio, não sabe o que é amar...